
O Tibete foi integrado politicamente na República Popular da China em 1951, pouco depois de os Comunistas liderados por
Mao Tse-tung terem ganho a guerra civil contra o
exército de Chiang Kai-shek (líder do Kuomintang). Desde então que o governo tibetano no exílio, liderado pelo conhecido Dalai-Lama, reclama o regresso da auto-determinação para o seu povo. Uma situação que se repete infelizmente por vários locais do mundo, tendo nalguns tido desfecho positivo, como Timor-Leste, e noutros impasses permanentes. Mais curioso será talvez fazer uma análise dos locais onde conflitos idênticos tiveram sortes diferentes: trata-se frequentemente de locais sob influência de potências de expressão menor (como por exemplo a Sérvia, a Indonésia ou o Iraque, nos casos do Kosovo, Timor-Leste e Kuwait respectivamente) onde existe um crescente interesse na independência por parte de uma potência de expressão maior (casos dos EUA e da Austrália, nos exemplos anteriores). Para grande azar do Tibete, a potência colonizadora é tão somente a China e como tal está posta de parte qualquer intervenção militar externa para a sua libertação. Talvez o Macaco Curioso se engane, mas enquanto a China não se tornar uma democracia moderna nunca o povo do Tibete poderá aspirar a qualquer tipo de liberdade. Um governo que suprime uma revolta estudantil com um banho de sangue em plena praça principal da capital do país e aos olhos das televisões de todo o mundo, não terá certamente o mínimo dos remorsos em fazer o mesmo aos pacíficos monges budistas do Tibete. Que o governo chinês não oiça todos aqueles que discordam da sua política, é um traço comum a todos os regimes mono-partidários (quer sejam de esquerda ou direita). O que é inconcebível é que organizações internacionais como a ONU assistam a estas e outras poucas vergonhas sem nada fazerem. Até o nosso cantinho à beira-mar plantado se recusa a receber oficialmente o Dalai-Lama com receio de que os interesses económicos dos portugueses possam ser lesados. Então e os interesses dos tibetanos, ninguém se importa com eles? Se a China nos integrasse pela força dentro do seu império e os nossos representantes não fossem recebidos no estrangeiro, que esperanças teríamos? O que pensámos nós do Papa João Paulo II, quando visitou Timor-Leste vindo da Indonésia e não beijou o solo como era hábito fazer sempre que visitava um novo estado? E que dizer dos EUA que invadem o Iraque ou a Sérvia para libertar o Kuwait e o Kosovo, mas nada fazem em relação ao Tibete ou à Tchechénia? Somos um mundo de hipócritas onde vale tudo, inclusivamente tirar olhos. Tal como os macacos, pomos as nossas pretensões territoriais à frente da liberdade dos povos que aí vivem. Auto-nos denominamos civilizados, mas lá no fundo queremos sempre mais poder e poder, e só sustemos a nossa ambição quando atacar o poder do nosso vizinho pode ter como consequência a perda do nosso poder já adquirido. Lá no fundo, dentro de todo o líder político existe uma secreta ambição de líder tribal, que quer ser o dono do mundo inteiro. Só assim o seu ego fica totalmente satisfeito com a ilusão de que é Deus na Terra. Mesmo que a restante humanidade lhe tenha um ódio de morte, só interessa a vaidade pessoal. Se o povo não está consigo a bem, então reprime-se qualquer manifestação de descontentamento com a maior das violências, para se dar o exemplo, para que os outros tenham medo e não ousem manifestar-se. Mas uma repressão violenta é sempre um sinal de fraqueza. É o último dos argumentos quando falha o diálogo. Pode adiar o inevitável, mas ajuda a cimentar o ódio contra o ordenador da repressão.
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