sábado, 15 de março de 2008

SOS d'un terrien en détresse

"SOS de um terrestre em desespero" é o título de uma canção interpretada por Daniel Balavoine para a ópera moderna "Starmania", composta por Michel Berger. Michel Berger (1947-1992) foi um dos maiores génios da música francesa do século passado, compondo músicas para diversos artistas, entre eles a sua mulher, a conhecida cantora France Gall. Infelizmente, Berger desapareceu prematuramente depois de sofrer um ataque cardiaco quando tinha apenas 44 anos.

Daniel Balavoine (1952-1986) era cantor e activista político, foi um artista irreverente que animou a vida política francesa durante as décadas de 70 e 80. Em 1980 ficou célebre um debate em directo durante o Telejornal, onde Daniel acusa o então Presidente da República, François Mitterrand, de ser um hipócrita e de o deixar a falar sozinho [ver debate][ver retrospectiva]. Desapareceu igualmente prematuramente num acidente de helicóptero, quando andava a ajudar a abrir poços de água no Mali durante o Paris-Dakkar. Tinha 33 anos... São também várias as músicas de Balavoine de grande qualidade, mas hoje destaco esta que encarna bem a angustia de quem vive os tempos modernos.

SOS d'un terrien en détresse, Daniel Balavoine.

Juntamente com a versão original de Balavoine junto ainda uma excelente interpretação do jovem cantor Grégory Lemarchal, durante o concurso televisivo "Academia de Estrelas 2004", versão Francesa. Grégory Lemarchal (1983-2007) tal como Berger e Balavoine viria a desaparecer muito cedo, pouco antes de fazer 24 anos, em resultado de uma doença crónica degenerativa, faz um ano no próximo dia 30 de Abril. Aqui fica então a homenagem merecida a estes três artistas.

SOS d'un terrien en détresse, Grégory Lemarchal.

Para quem não domina o francês, junto a tradução aproximada da letra desta excelente canção:

"Porque será que vivo, porque será que morro?
Porque será que rio, porque será que choro?
Eis aqui o S.O.S.,
De um terrestre em desespero.

Nunca tive os pés bem assentes na Terra,
Gostaria mais de ter sido um pássaro,
Sinto-me mal na minha pele.

Queria ver o mundo ao contrário,
Se por ventura fosse mais bonito,
Mais bonito visto do alto [de cima],
Do alto [de cima].

Sempre confundi a vida,
Com as bandas desenhadas,
Tenho como que desejos de metamorfose,
Sinto alguma coisa,
Que me atrai,
Que me atrai,
Que me atrai para o alto [para cima].

Na grande lotaria do Universo,
Saiu-me um número errado,
Sinto-me mal na minha pele.

Não tenho vontade de ser um robô,
Metro, Trabalho, Dormir(*1).

Porque será que vivo, porque será que morro?
Porque será que rio, porque será que choro?
Acredito captar ondas,
Vindas de um outro mundo...

Nunca tive os pés bem assentes na Terra,
Gostaria mais de ter sido um pássaro,
Sinto-me mal na minha pele.

Queria ver o mundo ao contrário,
Gostaria mais de ter sido um pássaro,
Dorme, bebé, dorme...(*2).

(*1) N.T.: Do original em francês "Metro, boulot, dôdo", que é uma expressão idiomática aplicada aos parisienses, por passarem sempre a vida a correr entre casa e o trabalho com o metro pelo meio. Significa que a vida dos parisienses se resume a essa monotonia e que passa por eles como se fossem robots.

(*2) N.T.: Do original em francês "Dodo, l'enfant, do", que é uma expressão muito utilizada nas canções de embalar para crianças. As canções de embalar terminam geralmente por esta expressão, donde se depreende que Michel Berger transforma esta letra num sonho para as crianças "adultas" tentarem dormir tranquilas... :-)

Sem comentários: